quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Bocage


Manuel Maria Barbosa du Bocage nasceu em Setúbal no dia 15 de Setembro de 1765, filho de um advogado e de uma senhora francesa. Vai para a Academia Real da Marinha aos 14 anos e embarca em serviço para a Índia em 1786. Vive dois anos em Goa, regressando a Lisboa com 25 anos de idade. Aí dedica-se a uma vida desregrada entre os botequins e as tertúlias literárias. Pertenceu à Nova Arcádia onde era conhecido pelo pseudónimo de Elmano Sadino. As suas relações com a Arcádia não foram pacíficas, tendo, ao afastar-se, lançado ataques contundentes nos seus versos. O seu pendor satírico levou-o à prisão do Limoeiro, conseguindo a transferência para o mosteiro de São Bento onde vem a falecer pobre e doente m 1805.


"Reclama o teu poder e os teus direitos
Da Justiça despótica extorquidos."



Bocage viveu numa época de crise evidente. A economia era frágil, o ouro do Brasil esvaía-se no luxo desenfreado da Corte, o erário público era delapidado pelas despesas abissais da marinha e do exército. As amplas e radicais reformas encetadas pelo Marquês de Pombal foram sistematicamente subvertidas. O povo indigente gemia a sua impotência.
Em França, vivia-se um período extremamente conturbado. A revolução tinha varrido a nobreza, Luís XVI e Maria Antonieta foram decapitados e os ventos que apregoavam os ideais de Liberdade, igualdade e fraternidade faziam-se ouvir com fragor. Os centros de convívio lisboeta eram palco de subversão, discutia-se acesamente nos cafés e nos botequins as vicissitudes da revolução francesa, criticava-se abertamente o poder e a situação política nacional, imprimiam-se "papéis sediciosos", aguardava-se com ansiedade os livros revolucionários que chegavam a Portugal pelos portos de Setúbal e de Lisboa. Em 1790, Bocage regressa a Portugal na sequência de uma estada agitada pelo Oriente. Para trás ficara uma experiência marcante em contacto com culturas díspares como a brasileira, a moçambicana, a indiana, a chinesa e a macaense. Os ideais de solidariedade social implícitos na revolução que se consolidava em França exerciam sobre ele um apelo inelutável.


Em Lisboa, nos dez anos subsequentes, levou uma vida de boémia, de franco convívio com o "bas-fond" da cidade. A sua peculiar experiência de vida, a irreverência, a extroversão, a emotividade, a frontalidade, a ironia, a percepção aguda da realidade e o imenso talento que o caracterizavam, de imediato, lhe granjearam um séquito de admiradores incondicionais. No "Botequim das Parras", no "Café Nicola" e noutros lugares de encontro dos noctívagos lisboetas, Bocage foi rubricando críticas aceradas aos múltiplos problemas nacionais, ao despotismo de Pina Manique, ao ambiente de suspeição em que se vivia, à natureza do regime e à ausência dos direitos humanos mais elementares.

 
 http://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=160#ixzz0zXwNmyBN

http://purl.pt/1276/1/bocage.html

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